O Turismo atual parece a travessia de balsa para o Marajó durante o verão: turbulento, com eventual água na embarcação, mas no final agente sempre chega e vive intensas emoções!
Olá leitores, em especial, aos profissionais Guias de Turismo, agentes de viagens e transportadoras, estamos passando por um momento sem precedente para nossos negócios, não somente no Turismo, mas vários setores econômicos em maior ou menor grau tem sofrido perdas consideráveis. Enquanto as outras crises mais recentes se desenrolavam de forma pontual em alguns territórios e continentes, desta vez atingiu todo o sistema de forma abrupta, paralisando negócios de forma nunca antes experimentada por muitos. Neste cenário desafiador e após conversas com operadores, amigos do turismo desde imenso Brasil, em Portugal, Estados Unidos; além de muitas leituras, segue alguns pontos para analisarmos algumas perspectivas:
- Descapitalização: um problema central da nossa oferta turística hoje é a rentabilidade, muitos operadores de excursão nacional, por exemplo, operam com margens operacionais baixíssimas, alguns até negativas, apenas movimentando dinheiro. O resultado deste processo destrutivo do produto é bem conhecido, a ilegalidade, pois muitos operam sem estarem de acordo com a Lei, não contratam Guia de Turismo e fazem mudanças absurdas nos roteiros para ganharem alguma margem operacional. Um resultado secundário, pós-crise, é a descapitalização, ou seja, muitos negócios não terão capital para reinvestimento ou terão que se endividar mais ainda para recomeçar. O momento agora é de segurar parte do capital para a retomada mais adiante, rever investimentos e cortar custos operacionais.
- Roteiros locais e nacionais: sem dúvida, a retomada do mercado será de proximidade, ou seja, deveremos investir massivamente em roteiros locais e nacionais de forma a diminuir o custo operacional atrelada a moedas estrangeiras e fomentar rapidamente a demanda, com pacotes de custos mais acessíveis. Na recuperação do Turismo na Ásia pós-crise ocorreu da mesma forma, muito hotéis viram suas ocupações crescerem com clientes locais e cidades próximas. Praias, igarapés, parques, municípios ainda inexploradas... é ora de estudar uma potencial oferta nova.
- Roteiros internacionais: contudo neste cenário, parte da sua clientela, de alta renda, talvez não esteja dispostas a encarar viagens locais e nacionais e prefira viagens internacionais. Neste caso, a observação do andamento da situação atual é fundamental, pois também você terá que ser criativo na oferta de novos destinos. Nos próximos meses, talvez seus clientes queiram, mas não poderão ir aos Estados Unidos e Europa. E aí, que pais vou oferecer? O que tem de novidades dentro de países já visitados?
- Preço, sem fidelização: atualmente, quase 90% dos operadores locais no Pará, por exemplo, utilizam uma estratégia de preço que desvaloriza o cliente fidelizado, aquele que geralmente compra primeiro a excursão. Analisando algumas saídas de excursões é fácil perceber que muitos clientes que compraram primeiro depois observam as últimas vagas sendo vendidas por quase a metade do preço, isso cria dois problemas sérios para o mercado: o primeiro, torna o cliente infiel, uma vez que ele não tem garantias que realmente esta comprando pelo melhor valor antecipado; o segundo é a dificuldade para lotas antecipadamente as excursões, uma vez que muitos clientes saberão que comprando em cima da hora terão descontos. Os problemas subsequentes são conhecidos: mudança de hotel, cidade de hospedagem, troca de ônibus, entre outros, para equacionar os fechamentos simultâneos próximos da saída.
- Preço, sem margens: quando trabalhamos com preços médios saudáveis, sustentáveis, em crises como essa, podemos eventualmente baixar os valores dos produtos/serviços para estimular a demanda, contudo no caso do mercado paraense, ficará muito difícil, pois as margens já estão quase nulas. Há pouco mais de 7 anos, um pacote para Carolina era vendido em média por R$ 500,00 reais, atualmente, está na média de R$ 350,00 e, em alguns caos, até por menos de R$ 200,00, ou seja, não tem como baixar ainda mais.
Preço, estratégias: neste momento temos duas questões centrais sobre o preço/valor do produto e serviço: a primeira é recuperar para valores médios mais saudáveis e o segundo é de estimular a demanda. Uma das possíveis estratégias é justamente inversa a atual, ou seja, temos que dá a garantia que os clientes mais fiéis, os primeiros a comprar, realmente pagarão o melhor preço. Tarifas de lançamento, casal, familiar, lotes, com diferenciais de serviços, das poltronas a frente, com hotel mais confortável, enfim, o plus para convencer o viajante são muitos. Uma das questões de futuro que temos que ter em mente é a seguinte - se os preços ficarem muitos baixos por muito tempo, o tempo de recuperação das tarifas ao momento pré-crise pode demorar anos e inviabilizar o negócio.
- Rede ativa: neste momento, "sem negócios" temos que manter nossa rede ativa, falando com nossos parceiros, fornecedores, estabelecendo estratégicas, negociando possíveis tarifas, volume de negócios, entre outros. Além claro de manter o contato com nossos clientes, atualizando os mesmos das mudanças de cenário e das possibilidades, sem lamentações, sempre com uma perspectiva positiva.
- Compra coletiva: esta velha estratégia de marcado pode ser adaptado para a oferta turística de diversas formas e garantir volume de negócios com determinados fornecedores em troca de preços mais acessíveis por um determinado tempo: transportadoras podem abastecer suas frotas num determinado posto, operadores de excursão podem usar o mesmo hotel em determinados destinos, a compra de serviço de bordo conjunta, ingressos antecipados, entre outros.
- Novas padrões de higiene e limpeza: atualmente, muitas companhias aéreas americanas, por exemplo, já mudaram seus padrões de serviço quanto a higienização das aeronaves, com nebulizadores e intensificação em áreas sensíveis das aeronaves, além de distanciamento em filas e mascaras para funcionários. Precisamos refletir como serão as operações das excursões a partir de agora e de nossos parceiros: como será dentro do ônibus, nos locais de passeio, minha interação com clientes, e aquele parceiro que não prepara a comida de forma adequada? As questões são muitos e se não dermos as respostas e ações adequadas, nossos clientes terão receito de viajar novamente.
Nas próximas postagens, em parceria com os colegas do Turismo, traremos outras reflexões sobre as questões que envolvem as Políticas Públicas de Turismo e o Direito do Turismo.
A travessia, por mais dura que seja, sempre revela momentos de rara beleza!
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