Olá caros leitores, hoje, voltei para escrever sobre um tema que adoro, aeroportos, pois nos últimos meses, devido a COP 30, saíram dezenas de notícias sobre a nossa capacidade de receber o evento, especialmente, sobre a capacidade do Aeroporto Internacional de Belém que não teria espaço suficiente para um evento tão robusto. Como amazonida, especialista em Transportes Turísticos e pesquisador, lamento a falta de profundidade como o tema é tratado, então vamos esclarecer algumas questões:
-Infraero e o ex-governador Almir Gabriel: a antiga operadora do aeroporto, a Infraero, não tinha recursos para uma reforma robusta, então fazia pequenas adaptações no prédio que já dava fortes sinais de desgaste, inclusive o mezanino era aberto. Em 1998, por decisão pessoal do então Governador Almir Gabriel que garantiu, com recursos do tesouro estadual, parte das verbas para a reforma do terminal, a Infraero propôs uma reforma, mas Almir disse que "não" e, segunda a lenda contada na época, teria dito "manda derrubar". Nesta época o estado passava por uma grande desenvolvimento econômico e turístico e que aquele aeroporto já não refletia o momento do Pará. O novo terminal foi feito em duas etapas, super dimensionado, era uma projeto para mais de 20 anos, sem novas necessidades de ampliação e permaneceu assim até os dias atuais;
-Concessão, a demora: o Aeroporto de Belém ficou praticamente por último no processo de concessão que só foi finalizada em 2022, depois de muita confusão nos bastidores por causa do aeroporto Santos Dumont que estava no outro bloco do processo licitatório, além da demora. Para quem não lembra, dentro do processo de concessão, em blocos, o Aeroporto de Belém (gera lucro) e o Aeroporto de Macapá (deficitário) foram feitos juntos, resumindo, uma fração da operação em Belém tem que manter o de Macapá, tudo previsto em contrato, pela nova concessionária, a NOA - Norte Brasil Airports;
-Capacidade para a COP30: a realidade é bem objetiva, olhando as fotos aéreas dos principais aeroportos do Brasil, apenas o Galeão (Rio de Janeiro) teria capacidade atual de pátio para receber o evento e com restrições, mesmo Guarulhos (Grande São Paulo), que está congestionado, não teria pátio disponível para toda a operação, ou seja, nenhuma cidade do Brasil, sem o apoio de outros aeroportos, teria condições de receber o evento. Apesar das dificuldades locais, a proposta da COP 30 é discutir também a Amazônia, então não faz sentido o evento ser no Rio Centro, Anhembi ou qualquer outro local. Sem vivenciar parte da problemática, não teremos grandes resultados;
-Investimentos, concentração de voos e "elefantes brancos": quando a COP 30 foi confirmada (2023) o aeroporto já havia sido concedido, ou seja, a NOA - Norte da Amazônia Airports foi pressionada para adiantar o projeto de ampliação com um tempo bastante exíguo, além disso em grande parte do Brasil e, em especial no Norte, há uma extrema concentração operacional, ou seja, são movimentados 4.1 milhões de passageiros (Aeroporto de Belém, 2024) em poucas faixas de horário. É comum em grande parte da manhã, final da tarde e início da noite ter pouquíssimos voos e não é raro encontrar o pátio vazio, equilibrar esta conta não é fácil, pois, lembremos, os recursos devem manter dois terminais importantes. Segundo dados da Anac (2024) nosso aeroporto tem uma capacidade atual de 7,7 milhões de paxs ano, ou seja, os investimentos mais robustos só viriam daqui há alguns anos, então a NOA decidiu por um projeto diferente, requalificar o terminar atual, ampliando o conforto, mas sem aumentar demais a infraestrutura e os custos, pois, afinal, como amante da aviação, queria ver uma grande expansão ;), mas do ponto de vista da nova administradora é perfeitamente compreensível a necessidade de otimizar a estrutura disponível, afinal não seria prudente e nem sustentável termos um elefante branco pós COP 30;
-Aeroportos de Apoio: entre 20 minutos e 2 horas de voo de Belém, em vários sentidos, temos uma forte rede de apoio operacional, com grande capacidade de pátio somadas, capaz de dar conta do evento: Macapá, São Luís, Fortaleza, Manaus, Teresina, Salinas, Soure, Santarém, Manaus, Boa Vista e até mesmo Brasília. Em Dubai, durante todo o evento, foram movimentadas um pouco mais de 400 aeronaves adicionais, ou seja, com algumas concentrações e, divido pela duração média do evento - 15 dias, seriam 26 a 30 operações adicionais por dia;
-Grandes jatos: toda região que recebe o evento, precisa de adaptações, aqui uma das dificuldades possíveis seria receber muitas aeronaves de grande porte ao mesmo tempo: 747, 767, A330, 787, entre outros modelos, das delegações. Belém, neste quesito, tem uma capacidade limitada, apesar do aeroporto está homologado para todos estes modelos, no máximo podem ficar simultâneos nos espaços disponíveis cerca de 6 - de tamanhos diferentes, incluindo na Base Aérea de Belém. Há muitas soluções propostas, caso os chefes e delegações não venham em aviões menores. Uma possibilidade é distribuir as chegadas ao longo dos dias de forma que elas não fiquem juntas no pátio e após deixar as delegações as mesmas sigam para aeroportos com pátio disponível, como Manaus e Fortaleza; outra possibilidade é o uso da pista dois (Belém possui duas pistas grandes que se cruzam) para estacionamento temporário caso várias cheguem ao mesmo tempo.
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