Caros leitores, viajantes e amigos, enquanto se desenrola a crise provocada pelo novo coronavirus, vamos analisar algumas situações amazônicas e nos preparar, mais do que nunca, para a retomada dos negócios. Precisamos refletir muito sobre nossa região... vamos falar hoje sobre os governos regionais e suas políticas públicas....
Amazônia Legal: região pouco integrada!
Recentemente, uma grande discussão se instalou sobre a Amazônia quando o Governo Federal excluiu todos os governadores da região do Conselho da Amazônia. Foi choro pra todo lado, "um completo absurdo" alguns disseram, "como pode se pensar a região, sem a ilustre presença dos governadores da região?" Para você leitor, que não conhece muita a região amazônica, vamos aos fatos:
A.Política regional: não existe nenhum tipo de política regional de fato na região, plano, planejamento ou algo do tipo que envolva os sete estados nortistas (AM, AP, PA, RO, RR, RR e TO) e os demais estados da Amazônia Legal (MA e MT). Neste sentido, a presença dos governadores num conselho é pouco representativa para a região, pois se nenhum deles tem projeção regional, os planos estaduais são pouco detalhados e tem uma visão de curto prazo, sua presença seria bastante limitada (não que concorde com a exclusão dos mesmos). Por exemplo, no Pará, até hoje não se sabe o que vai ocorrer com a região após o boom mineral, pois muitos municípios vivem apenas da exploração mineral. No Turismo, após intenso investimento e plano de médio a longo prazos de governos anteriores, o governador atual ainda nem sabe o que fazer definitivamente com a Secretaria de Turismo. Em Rondônia, os investimentos em agronegócio, soja, entre outros, pressionam cada vez mais as poucas áreas de florestas nativas remanescentes. No Amazonas, a Zona Franca vive uma constante ameaça entre os que são a favor de sua manutenção e os que querem acabar com as isenções tributárias; já a politica amazonense de turismo é uma das mais perenes e, de longe, é o estado que mais recebe turistas estrangeiros na Amazônia.
B.Integração Regional: os estados são pouco integrados física e economicamente, devido as distâncias, as questões hidrográficas e as particularidades regionais de colonização, além do nível populacional (muitos estados tem populações relativamente pequenas). Neste cenário, os governos estaduais não estabeleceram até o momento nenhuma política de fato para uma maior integração regional, as principais políticas continuam sendo federais, como o asfaltamento da BR 163, a rodovia da soja, que integra os estados do Mato Grosso (região norte do estado) e do Pará (porção sudoeste); e a futura privatização dos aeroportos. A recente redução de ICMS sobre combustível de aviação promovida pelos estados do Pará, Amazonas e Amapá visou a criação de voos internacionais, voos intra regionais (dentro dos próprios estados) e para outras capitais do Brasil. Viajar entre o sul e o norte da Amazônia continua sendo um grande desafio logístico, com valores proibitivos e conexões demoradas, inviabilizando qualquer relação comercial e o turismo.
C.Eventos regionais: mesmo eventos que são chamados de amazônicos, como a FITA - Feira Internacional de Turismo da Amazônia, realizado a cada dois anos em Belém (PA) e a FIAM - Feira Internacional da Amazônia, realizado em Manaus (AM), terminam sendo eventos estaduais, pois integram muito pouco a região.
D.Turismo: as políticas públicas para o setor também são completamente separadas, cada estado tenta captar viajantes sozinhos, como se fosse uma ilha dentro do território amazônico. Nos materiais de divulgação não há regionalidade alguma, ou seja, na Amazônia, venha "conhecer apenas meu estado", como se para chegar ao Amapá ou ao Amazonas, não se tivesse que passar pelo Pará ou Mato Grosso. As iniciativas regionais das Secretarias Estaduais de Turismo são muito timinas ou inexistem. Recentemente, a Setur-PA estava discutindo algumas políticas para roteiros integrados entre o Pará e o Amazonas, processo que alguns operadores já comercializam há anos, mas nunca tiveram apoio.
O cenário é desafiador e mostra muitas oportunidades, pois é notório e perceptível nos territórios estaduais o desenvolvimento do turismo e muitos municípios possuem grande parte de sua geração de renda atrelados aos serviços ligados ao Turismo, como Presidente Figueiredo, Salinópolis, Ilha de Algodoal, Ilha de Mosqueiro, Vila de Alter do Chão, entre outros. O Turismo, sem dúvida, é e continuará sendo um dos principais indutores de desenvolvimento da Amazônia, contudo os governos estaduais e o setor privado precisam olhar para a região como um todo, estabelecendo políticas de integração que facilitem o transito de pessoas e negócios, senão continuaremos sendo ilhas de desenvolvimento limitado do turismo.
Para os gestores, muitos ainda não sabem bem o que o Turismo pode fazer pela geração de emprego e renda das comunidades, então ficam algumas sugestões:
1.Integração aérea: os incentivos fiscais para além de voos internacionais e nacionais, devem priorizar as conexões intra-amazônicas e com potenciais mercados emissivos já conhecidos: Porto Alegre - Belém; Boa Vista - Belém; Rio Branco ou Porto Velho - Belém; Macapá - Fortaleza; Manaus - Rio Branco; Manaus - Porto Velho; Santarém - São Paulo; Santarém - Brasília; entre outros. Algumas destas rotas já foram operadas de forma sazonal e aos poucos estão retornando.
2.Integração do Marketing de Destino: precisamos vender as possibilidades de viagens pela Amazônia e não somente os destinos estaduais individualmente, ou seja, quem vem visitar a região tem que saber que pode visitar o Pará, o Amazonas e o Maranhão na mesma viagem; ou o Pará e o Amapá; ou Rondônia e Amazonas; e não apenas cada estado e suas atrações. As possibilidades de viagens e roteiros são muitas, mas a falta de visão tanto do setor público quanto do privado ainda impede esse tipo de comercialização.
3.Incentivo aos operadores para roteiros integrados: um trabalho muito interessante que pode ser feito, até de forma individual pelas Secretarias Estaduais de Turismo ou mesmo municipais, é mostrar a diversidade de opções do território amazônico para uma viagem, cativando muitos viajantes pela disponibilidade de destinos a serem visitados. Em vez do Pará, por exemplo, vender somente as belezas do estado, poderia alertar aos operadores e viajantes durante a participação em feiras e eventos que poderiam conjugar seus roteiros com as belezas dos estados vizinhos como o Maranhão e o Amazonas. Em pequeno volume ainda, mas alguns operadores de receptivo do Pará já vem trabalhando a demanda orgânica do Círio de Nazaré, que ocorre em outubro na capital paraense, para estender a viajem de grupos para outros estados como o Amazonas ou incentivando a visita a outras atrações maranhenses nos roteiros rodoviários, como Carolina e Lençóis Maranhenses.
O Turismo na Amazônia pós-crise será muito melhor e menos desafiador se os governos estaduais estabelecerem uma ampla política de integração regional, incentivando negócios de proximidade, fomentando o mercado local e incentivando um das maiores bases atuais de geração de emprego e renda na região, que é o Turismo.
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