Ninguém sabe ao certo o que será da gestão de Gastão Vieira à frente do Ministério do Turismo (MTur), mas é dado que o critério que norteou a sua escolha, ser do PMDB do Maranhão, é bem ruim. Como seu antecessor, Pedro Novais, o deputado, agora transformado em ministro, nunca militou no setor de turismo: chegou lá menos por entender do assunto e mais por ser do grupo sarneysta. É bem possível que ele siga a diretriz que vinha sendo delineada pelo Ministério, que é a de tentar aumentar o número de visitantes estrangeiros no Brasil, o que seria bastante desejável.
Amargando um dos números mais medíocres de receptivo de turistas em todo o mundo, o país recebe cerca de 5 milhões de visitantes estrangeiros anualmente, contra uns 80 milhões da França, 70 milhões da Espanha, 50 milhões dos EUA e, também, da Itália. Para reverter essa tendência, o Ministério do Turismo ensaiou "fomentar o turismo de fronteira". Quem não acompanha muito o assunto, pode até pensar que isso seria a "salvação da lavoura" diante de números tão medíocres de visitação de estrangeiros por aqui. Dados da Organização Mundial do Turismo (OMT) mostram que, no mundo, 80% do fluxo turístico internacional é realizado entre países próximos e, inspirado nisso, o MTur criou o Programa de Turismo de Fronteiras (Frontur).
Com 15,7 mil quilômetros de fronteiras com localidades sul-americanas, 11 dos Estados brasileiros (588 municicípios) poderiam receber turistas de verdade vindos de países vizinhos. Vale dizer que, atualmente, metade dos visitantes que computamos como turistas estrangeiros (ou 2,4 milhões de pessoas/ano) vêm do outro lado da fronteira. Ocorre que toda essa política, que é vendida pelo MTur e pela própria Embratur como uma grande solução para o nosso déficit turístico, esconde que, infelizmente, nosso número de visitantes além de pífio, carece de critérios.
Nos países europeus, onde vigora o chamado espaço Schengen, só conta como turista o viajante que dorme pelo menos uma noite num quarto de hotel. Já nos EUA, que faz fronteira com o México, ao sul, e com o Canadá, ao norte, o critério é o "international arrival", ou seja, só é contabilizado o turista que chega de avião ou de navio, justamente para não considerar um turista o sujeito que vem e volta.
Na contramão de uma política de fomento turístico de verdade capaz de aumentar de fato o número de turistas estrangeiros por aqui, vamos passar a contabilizar o sul-americano que atravessa a fronteira para fazer uma pequena compra, que não usa um hotel brasileiro, que não é de fato um viajante internacional e, sim, um visitante ocasional e quase instantâneo. Sim, com esse expediente o MTur e a Embratur vão inflar as cifras e já prometem "bater o recorde", chegando à marca (aliás, fraquinha) de 5,4 milhões de "turistas" por aqui.
Antes que a propaganda oficialista comece a nos iludir com esse arranjo meio que ardiloso, seria o caso de lembrar que precisaríamos adotar um critério sério, se é que queremos sair da barafunda em que estamos depois de gestões ruinosas, denúncias de ONGs de fachada recebendo dinheiro público sem prestar contrapartida de verdade.
Além de um critério que contabilize turistas reais, falta usar aquele formulário que os hóspedes preenchem ao fazer check-in num hotel brasileiro. Aquele, onde consta o propósito da viagem, o número de dias de hospedagem, o meio de transporte utilizado, a qualificação e a idade do viajante etc. Ele seria ótimo para verificarmos quem visita o Brasil. E poderia ajudar a formular políticas público-privadas que melhorassem nosso desempenho turístico. Mas, triste saber, esses formulários não são sequer tabulados e, jogados fora, realmente não servem para nada.
Fonte: Escrito por Silvio Cioffi, em http://blogdoturismo.folha.blog.uol.com.br/arch2011-09-11_2011-09-17.html#2011_09-16_20_07_37-148978006-0
Comentários: Turismo de Fronteira parece uma idéia boa, contudo, para variar, o Ministério do Turismo não parece ter considerado alguns aspectos básicos:
1. Considerando o nível tarifário aéreo praticado hoje e a precariedade dos acessos rodoviários entre o Brasil e os demais países sul americados, parece difícil a chegada em massa de turistas por aqui;
2. O nível social e os seguidos problemas políticos dos países vizinhos implicam em incertezas sobre o sucesso desta política;
3. No caso da Amazônia, não faria sentido econômico, social e ambiental rasgar a floresta conectando a mesma com os demais países por via rodoviária;
4. Como destacou o autor do artigo, carecemos de critérios objetivos para mensurar esta nova "demanda", senão teremos resultados apenas políticos e não práticos;
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